A Divisão Internacional do Trabalho: Do Modelo Clássico ao Neoliberalismo



Introdução

A Divisão Internacional do Trabalho (DIT) é um conceito essencial para compreender a economia global. Ele se refere à forma como diferentes países organizam sua produção e comércio, baseando-se em suas vantagens comparativas. Historicamente, essa divisão foi estabelecida de maneira desigual, favorecendo algumas nações em detrimento de outras. No entanto, com a ascensão do neoliberalismo, essa estrutura sofreu mudanças significativas.

Neste artigo, exploraremos a antiga DIT, suas transformações ao longo do tempo e o impacto das políticas neoliberais na atual configuração do trabalho e do comércio mundial.

A Antiga Divisão Internacional do Trabalho

A DIT tradicional foi consolidada durante a Revolução Industrial e o colonialismo. Nesse modelo, o mundo foi dividido basicamente em dois grandes grupos:

  • Países centrais: Produziam bens industrializados e controlavam o comércio internacional. Eram, em sua maioria, potências europeias e, posteriormente, os Estados Unidos.
  • Países periféricos: Responsáveis pela exportação de matérias-primas e produtos agrícolas. Muitos desses países eram colônias ou ex-colônias dependentes economicamente das nações industrializadas.

Esse modelo reforçou a desigualdade econômica entre as nações. Os países industrializados obtinham maiores lucros ao vender produtos manufaturados, enquanto os países periféricos recebiam baixos preços por suas commodities, mantendo-se presos a um ciclo de dependência.

A Crise do Modelo Clássico e a Emergência de Novos Atores

A antiga DIT começou a ser questionada no século XX, principalmente após a Segunda Guerra Mundial. A descolonização e o avanço das políticas de substituição de importações em países da América Latina, África e Ásia levaram algumas nações a tentarem reduzir sua dependência das economias centrais.

Além disso, a ascensão de novos polos industriais em países como Japão, Coreia do Sul e, mais recentemente, China, modificou a dinâmica global. Esses países passaram de fornecedores de matéria-prima para produtores de tecnologia e bens de alto valor agregado.

A Nova Divisão Internacional do Trabalho e o Neoliberalismo

A partir dos anos 1970 e 1980, com a consolidação das políticas neoliberais, a DIT passou por grandes transformações. O neoliberalismo, promovido por economistas como Milton Friedman e aplicado em países como Estados Unidos e Reino Unido, defendeu a abertura dos mercados, a desregulamentação da economia e a redução do papel do Estado.

As principais características da nova DIT sob o neoliberalismo incluem:

  1. Globalização produtiva: Empresas transnacionais passaram a distribuir sua produção por vários países, buscando mão de obra barata e menores custos operacionais.
  2. Terceirização e precarização do trabalho: Com a flexibilização das leis trabalhistas, muitos empregos se tornaram temporários ou informais, reduzindo direitos trabalhistas.
  3. Especialização flexível: Ao contrário da antiga DIT, na qual os países periféricos eram apenas exportadores de matérias-primas, hoje há um maior envolvimento desses países na produção industrial, mas de forma subordinada.
  4. Dependência tecnológica: Apesar de alguns países emergentes terem desenvolvido indústrias locais, a produção de tecnologia de ponta continua concentrada nos países centrais.
  5. Financeirização da economia: O capital financeiro passou a ter mais influência do que a produção industrial, tornando os países mais vulneráveis a crises financeiras globais.

Impactos e Desafios da Nova DIT

As mudanças na DIT trouxeram vantagens e desafios para diferentes países. Algumas nações emergentes, como China e Índia, conseguiram aproveitar esse cenário para crescer economicamente, enquanto outras permaneceram presas a ciclos de dependência.

Os principais desafios enfrentados atualmente incluem:

  • Desigualdade social: O crescimento econômico nem sempre resulta em melhor distribuição de renda, e muitos trabalhadores enfrentam condições precárias de emprego.
  • Concentração de tecnologia e conhecimento: A inovação continua concentrada nos países desenvolvidos, dificultando o avanço tecnológico de nações periféricas.
  • Impactos ambientais: A exploração de recursos naturais intensificou-se, gerando desmatamento, poluição e mudanças climáticas.
  • Crises financeiras globais: A interdependência econômica tornou os países mais suscetíveis a crises que começam em outras partes do mundo.

Conclusão

A Divisão Internacional do Trabalho evoluiu ao longo do tempo, mas continua refletindo desigualdades estruturais entre os países. O neoliberalismo aprofundou essas mudanças, promovendo uma globalização produtiva que beneficiou grandes corporações e ampliou a precarização do trabalho.

Para que haja uma distribuição mais equitativa dos benefícios da economia global, é necessário que os países periféricos invistam em tecnologia, educação e políticas que reduzam sua vulnerabilidade econômica. Somente assim será possível superar a histórica dependência imposta pela DIT.


Questões de Fixação

1. Sobre a Divisão Internacional do Trabalho (DIT), é correto afirmar que:

(A) Desde a Revolução Industrial, todos os países participam da produção de bens industrializados de maneira equitativa.
(B) A antiga DIT favorecia os países periféricos, pois eles vendiam matérias-primas a preços elevados.
(C) A nova DIT permitiu que todos os países periféricos se tornassem autossuficientes na produção de tecnologia.
(D) O neoliberalismo contribuiu para a reestruturação da DIT, promovendo a terceirização e a globalização produtiva.
(E) A especialização flexível eliminou a dependência econômica dos países subdesenvolvidos.

Resposta correta: (D)
Comentário: O neoliberalismo impulsionou a globalização produtiva, fazendo com que as empresas distribuíssem sua produção em diversos países, muitas vezes em busca de mão de obra mais barata.

2. Um dos efeitos da Nova DIT no mundo do trabalho é:

(A) O aumento da regulamentação trabalhista e a estabilidade do emprego.
(B) A redução da desigualdade entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos.
(C) O crescimento da terceirização e da precarização das condições de trabalho.
(D) O fim da dependência econômica das nações periféricas.
(E) A substituição completa da produção agrícola pela industrial nos países emergentes.

Resposta correta: (C)
Comentário: Com a flexibilização das leis trabalhistas e a busca por maior competitividade, a terceirização e a informalidade cresceram significativamente.

3. Sobre a financeirização da economia, assinale a alternativa correta:

(A) Significa a priorização do setor financeiro sobre a produção industrial.
(B) É um fenômeno exclusivo dos países subdesenvolvidos.
(C) Reduziu a vulnerabilidade das economias aos ciclos de crise global.
(D) Enfraqueceu o setor bancário mundial.
(E) Eliminou a necessidade de investimentos produtivos.

Resposta correta: (A)
Comentário: A financeirização se caracteriza pelo predomínio das atividades financeiras sobre a produção, tornando a economia global mais instável.


Eduardo Fernando Sil Per

Prof. Eduardo Fernando Silva Pereira é Mestre em Educação pela Must University, especialista em Metodologias de Ensino Superior e Educação a Distância. Possui formação em Geografia pela Universidade Norte Do Paraná e Pedagogia pela Universidade Católica de Brasília.

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